Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar.

 

“Se puderes olhar, vê. Se puderes ver, repara”

Esta frase de José Saramago levou-me a um poema “Cantata da Paz” de Sophia de Mello Breyner Andresen,  e à frase “Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar”.

 

O Plano e Orçamento para o ano de 2018 foram ontem publicamente apresentados e discutidos na reunião de câmara.

 

O Plano e o Orçamento são , de uma forma muito simplista, documentos que contêm aquilo que se pretende fazer em 2018 e os respectivos meios financeiros para o conseguir realizar.

 

Tudo normal se não fosse a “polémica” premissa que terá presidido à sua elaboração, que de certa forma o justifica e que está escrita na página 9 do Relatório do Orçamento:

 

“A aplicação em pleno dos diversos programas aprovados no âmbito dos fundos de apoio comunitário “Portugal 2020”, associado a um amplo conjunto de intervenções relacionadas com os trágicos acontecimentos de 17 de junho de 2017 e dias seguintes cujo impacto no concelho de Figueiró dos Vinhos é reconhecidamente marcante, tornam o ano de 2018, claramente como um ano de extraordinário investimento.”

 

Ao olharmos, vemos, reparamos e não podemos ignorar. Até custa a acreditar mas está lá, preto no branco.

 

Seria anedótico se não fosse trágico e indecoroso afirmar que os incêndios até vão ser positivos para o investimento em 2018.

 

No fundo, o que se pensa e escreve com todas as letras é que os incêndios, de 17 de Junho e dias seguintes, não foram uma tragédia local e nacional porque neles morreram 64 pessoas e se destruíram floresta e bens, mas foram, segundo parece, um alívio para o orçamento da Câmara e um acontecimento positivo que permite “tornar o ano de 2018, claramente como um ano de extraordinário investimento”.

 

Ao procurar-se justificar desta forma o investimento previsto para o próximo ano está-se não só a insultar quem sofreu com esta tragédia, mas  a humilhar a memória das vítimas – mortos e feridos – e das suas famílias.

 

Muitos não perceberão como é que se pode pensar e escrever isto como, certamente, não perceberão a actual governação se não olharmos e repararmos no enorme conjunto de equívocos que está por detrás dela.

 

Num outro país e com outros protagonistas estas afirmações teriam outras consequências que não só a do repúdio e a da censura pública.

 

 

 

 

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